Violência do Estado e o luto de mães periféricas3 min de leitura

Violência do Estado e o luto de mães periféricas3 min de leitura

Como o racismo institucional afeta a população negra?

Diariamente, o racismo estrutural e a herança escravagista fazem novas vítimas no Brasil. A abordagem extremamente racista por parte da polícia mata, em sua esmagadora maioria, homens e mulheres negros e periféricos. Segundo dados do Anuário de Segurança Pública, organizado pela FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), os negros correspondem a 78,9% das pessoas mortas por policiais no ano de 2020. Para ver mais dados, acesse AQUI.

É impossível falarmos de violência policial sem pensarmos em opressão e preconceito. A imagem que o Brasil têm da população negra foi construída baseada na escravidão – negros são vistos como criminosos e perigosos.

ESSA VISÃO TEM GRANDE IMPACTO NA FORMA COMO PESSOAS NEGRAS SÃO ABORDADAS PELOS AGENTES DE ESTADO, MOSTRANDO QUE TODA ESSA VIOLÊNCIA TEM COR.

Para mães negras e periféricas, o medo em relação à segurança dos filhos é o que prevalece desde o momento do nascimento. O movimento Mães de Maio, um dos mais famosos do país, acolhe mães enlutadas que perderam os seus filhos de forma violenta em ações do Estado. Ele surgiu quando, em maio de 2006, aproximadamente 564 pessoas foram mortas em uma chacina que ficou conhecida como os Crimes de Maio. Em uma retaliação contra os ataques da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), agentes de segurança acabaram com a vida de muitas pessoas e saíram completamente impunes. Apenas um agente público foi responsabilizado pelas mortes, mas responde ao processo em liberdade e ainda atua como Policial Militar.

Buscando justiça e alguma forma de punição para os responsáveis pela chacina, Mães de Maio reúne mulheres que tiveram os seus filhos mortos e se tornaram referência na luta contra a violência policial e pela memória das jovens vítimas – 63% do total tinha até 25 anos. Uma das grandes conquistas da luta deste grupo foi a aprovação da lei 15.505/204, que instituiu a Semana Estadual das Pessoas Vítimas de Violência no Estado de São Paulo. A homenagem acontece todo ano entre os dias 12 e 19 de maio.

Nas comunidades periféricas marcadas pela violência, as mães são impedidas de viver o seu luto, tendo que rapidamente transformá-lo em ação. Suas dores são exploradas pela mídia de forma desumana e sensacionalista. Em um ato desesperado, essas mulheres são obrigadas a defender a honra dos filhos perante uma sociedade racista em entrevistas em rede nacional.

Todos esses crimes e chacinas mostram a dura e problemática realidade do racismo enraizado no país, matando vidas negras e periféricas com brutalidade e sob a proteção do Estado. Reconhecer os erros nesta estrutura de segurança é o primeiro passo para que matanças como os Crimes de Maio (e tantos outros que vemos diariamente nos noticiários) possam ser evitados.

Para ler mais sobre os Crimes de Maio e o movimento Mães de Maio, acesse AQUI.

Este artigo foi inspirado pela conversa “Luto nas Periferias” do podcast “Conversas Sinceras Sobre Viver e Morrer”.

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