Quanto tempo dura aquele exato minuto em que recebemos de um médico ou de uma médica um diagnóstico complicado? Câncer, Aids, insuficiência renal.
Existem vários jeitos de tentar explicar essa sensação que, talvez, seja inexplicável: “o chão saiu debaixo dos meus pés”, “o tempo parou”, “a minha vida passou como um filme”.
Não necessariamente aquele veredicto é sinônimo de morte, ou pelo menos não uma morte imediata. É uma morte em potencial. Uma ameaça à vida.
Porém, precisamos refletir sobre o significado daquele minuto eterno de sensação de abismo: receber um diagnóstico como um daqueles ali em cima é um impacto no que conhecemos como vida até então. A partir dali, tudo muda. Começam os novos exames, mais e mais agulhas são espetadas, é preciso compartilhar a informação com parentes e amigos, talvez pedir afastamento temporário do trabalho.
Ali, naquele instante, ainda que a pessoa não venha a morrer concretamente daquela doença, já é uma morte. Não seria exagero, portanto, olhar para aquele processo que se desencadeia como um luto. A tendência é de que a gente oscile entre o que estamos perdendo e o que precisamos manter para continuar tocando a vida, fazendo planos.
A situação inédita com certeza é desafiadora, mas talvez a gente tenha mais ferramentas para lidar com ela do que nós mesmos imaginamos.
PODEMOS FAZER UM EXERCÍCIO DE LEMBRAR QUANTAS VEZES JÁ MORREMOS ANTES.
“Ué, mas eu nunca morri na vida!” Não? Pense bem. Se você é mulher e já engravidou, morreu como mulher sem filhos e nasceu como mulher grávida. Depois, morreu como mulher grávida e nasceu uma mãe. Faz sentido? Morremos quando trocamos de profissão ou de emprego. Quando ficamos desempregados. Quando atravessamos uma separação conjugal, quando mudamos de país. Lançamos mão de recursos internos e externos que nos ajudam a navegar por águas nunca antes navegadas.
E o que podemos aprender com essas situações e pegar emprestado para lidar com a notícia de um diagnóstico difícil? Como podemos acolher um familiar ou um amigo num cenário como este?
A resposta com certeza é individual, como todo luto. A regra é: não há regras. Todas as sensações que aparecem são legítimas e fazem parte: medo, dor, sensação de gratidão por ter a chance de um tratamento ou de um cuidado, necessidade de ficar mais agarrado à família. Enxergar ali um luto é um jeito mais generoso de olhar para si ou para os outros. De deixar o tempo necessário decantar as novas perspectivas, se permitir se recolher ou se abrir. E seguir.
E você? Por acaso consegue contar quantas mortes já teve na vida? Em quais recursos internos e externos você encontrou ajuda?