O escritor e monge benedito alemão Anselm Grün conta a história de um jovem indígena que comprou seu primeiro automóvel.
Antes de mais nada, convidou seu velho tio, também indígena, para dar uma volta. No meio do percurso o velho pediu para que seu sobrinho encostasse o carro. Sentou-se no acostamento da estrada.
Em seguida, o jovem logo saiu do carro, se aproximou. Perguntou se o tio estava passando mal e ouviu em resposta:
“Não. Me aguarde apenas alguns minutos, pois estou esperando minha alma me acompanhar.”
Acima de tudo, esta história nos faz refletir sobre o fato de que muitas vezes entramos em jornadas que nossa alma não dá conta de acompanhar. Abrimos ciclos com mais facilidade do que temos para fechar os antigos. Quando nos damos conta, estamos em lugares em que nossa alma não nos acompanhou. Pra mim, foi difícil perceber que, ao longo da minha jornada, eu fazia justamente isso: abria novos ciclos e não encerrava os antigos. “O correr da vida embrulha tudo”, já diria Guimarães Rosa. E aí vem Santo Agostinho e nos lembra, sobretudo, que o tempo da alma é o presente.
OU SEJA: APRENDI A VER NA ESPIRITUALIDADE UM CAMINHO PARA VIVER O PRESENTE DA VIDA E A VIDA DO PRESENTE.
Hoje, cada vez mais consciente da impermanência da vida, permito-me investir mais tempo em coisas que antes pareciam desperdício.
Há 19 anos, para estudar, me mudei de Minas Gerais para o Rio de Janeiro e aqui permaneci. Nesse meio tempo, já se vão 15 anos de trabalho dando suporte espiritual a pacientes em cuidados paliativos no Instituto Nacional de Câncer, o Inca. Além disso, também dou aulas sobre espiritualidade e dediquei minha trajetória acadêmica ao estudo deste tema. Contudo, aprendi no caminho que, para reflexões neste campo, não basta saber; é necessário viver. Em outras palavras: eu precisava olhar pra mim e ver como eu mesmo vivenciava a espiritualidade.
A vida é como passos de uma dança, composta de idas e vindas, quedas e saltos, pausas e giros, que fazem a coreografia ser bela, que encantam o olhar e nos faz saborear cada ação e cada silêncio tal qual alguém que saboreia um apetitoso prato. A partir de agora, neste espaço, eu vou buscar sempre trazer a minha alma para o presente – e te convido a trazer a sua também. Muitas vezes precisamos de pausas na existência para estarmos inteiros diante das vicissitudes da vida, das intempéries da existência.
Afinal: você acha que em algum momento deixou sua alma para trás? Você está em descompasso com o seu “eu” mais profundo?