O luto no diagnóstico de uma doença grave3 min de leitura

O luto no diagnóstico de uma doença grave3 min de leitura

Receber o diagnóstico de uma doença que ameaça a nossa vida está, certamente, entre os momentos mais desafiadores na história de alguém. É uma ocasião dolorosa onde mil perguntas podem surgir e quase não há nenhuma certeza de por onde começar.

Um gigantesco e invisível ponto de interrogação ergue-se em nossas cabeças.

Surge então, a tortuosa e incessante busca pela cura. Talvez a qualquer custo. Será?

Imagine uma pilha de exames com nomes difíceis e códigos indecifráveis são capazes de detectar um câncer (tão temido por tantos) ou outras doenças como uma demência, por exemplo. É hora de correr contra o tempo. Ou melhor, aproveitar o melhor do tempo que temos e fazer o possível para que haja vida até o último segundo.

O IMPACTO PODE SER MUITO MAIOR DO QUE SE PENSA: NINGUÉM ESTÁ PREPARADO (A) PARA O QUE ESTÁ POR VIR.

A medicina e a ciência estão aí buscando os melhores recursos. Mas nem todos têm acesso a tudo. E nem sempre o tratamento que funciona para Maria pode ser eficiente para João.

Mais uma vez, tocamos no assunto na humanização e protagonismo do paciente: o CID pode até ser o mesmo, mas os profissionais de saúde devem levar em conta as histórias, desejos, medos e sonhos de cada um. Todos esses aspectos (e muitos outros!) irão impactar na maneira com que o tratamento é recebido pelo corpo.

A repercussão desse tipo de diagnóstico reflete em todos os aspectos da vida do paciente e de seus familiares. Os efeitos físicos, a perda da autonomia, as dores psicológicas e da alma. As idas incessantes a consultórios, ambulatórios para a realização de exames e hospitais: uma nova (e exaustiva) rotina se apresenta.

FRAGILIDADE E INSEGURANÇA TENDEM A SER AS PALAVRAS DA VEZ.

Ansiedade, falta de controle sobre as coisas, situações, relações e o próprio corpo.

“E meu trabalho?”. “E meus filhos (as)”?

O que muitas pessoas não sabem é que diante das incertezas do diagnóstico de uma doença grave, um luto já se desenha para pacientes e familiares.

É o chamado LUTO ANTECIPATÓRIO: todos os sintomas de luto já estão ali, mesmo sem uma morte concreta. As perdas e a quebra do mundo como conhecíamos já se impõem. O sofrimento emocional, seja o desfecho da doença a cura ou não, já está instalado.

Dessa forma, os Cuidados Paliativos surgem como uma camada extra de conforto, indispensável para pacientes com doenças que podem matar. Aliados ao tratamento convencional, esses cuidados olham para o paciente e suas dores nas mais diversas dimensões: físicas, emocionais, espirituais, sociais, financeiras e tudo o que mais doer. O foco é o alívio dos sintomas, dores causados pela doença e também efeitos colaterais do tratamento.

Vale lembrar que eles não só podem como devem ser ofertados no momento do diagnóstico, oferecendo maior dignidade e bem-estar para o enfrentamento da doença e do tratamento.

O luto antecipatório não traz só dor: a consciência desse processo pode ser capaz de estreitar laços, fortalecer as redes de apoio e melhorar a comunicação de todos os envolvidos com o paciente – inclusive profissionais de saúde.

“A morte, com luto, não é a outra pessoa que morreu, ela continua contigo, você continua lembrando dela. É você que morreu pra ela. Você não tem saudade do outro, você tem saudade do que nunca mais será para o outro. Você pensa não no abraço que você não vai dar, no beijo que você não vai dar. Você pensa no beijo que não vai mais receber, no abraço que não vai mais receber, a morte é a nossa inexistência, a morte do outro é a nossa inexistência.”

Fabrício Carpinejar

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