Mergulhamos no blog MORTE SEM TABU das jornalistas Camila Appel, Cynthia Araújo e Jéssica Moreira para trazermos um assunto que merece mais voz que é a NECROPOLÍTICA.
Necropolítica é a capacidade de estabelecer parâmetros em que a submissão da vida pela morte está legitimada. Para o historiador camaronês Achille Mbembe, a necropolítica não se dá só por uma instrumentalização da vida, mas também pela destruição dos corpos. Não é só deixar morrer, é fazer morrer também.

Achille Mbembe, conhecido por ter cunhado, em 2003, o termo “necropolítica”
É o uso do poder político e social por parte do Estado, a fim de determinar, por meio de ações ou omissões (como gerar condições de risco para certos grupos da sociedade) um contexto de desigualdade, em zonas de exclusão e violência, em condições de vida precárias, assim, definindo, quem pode permanecer vivo ou deve morrer.
O NECROPODER É UM ELEMENTO ESTRUTURAL NO CAPITALISMO NEOLIBERAL DE HOJE.
Na prática, essa violência pode ser vista em diversas estruturas da sociedade brasileira: na violência policial (e abuso de poder) com jovens negros e periféricos; no descaso e omissão à comunidades indígenas e quilombolas, na incapacidade do governo anterior controlar a pandemia – principalmente em relação ao atraso da compra das vacinas (e toda a inércia em relação ao que realmente estava acontecendo no país).
O BRASIL AINDA APRESENTA ALTOS ÍNDICES DE VIOLÊNCIA LETAL NA POPULAÇÃO NEGRA.
Segundo o Atlas da Violência de 2020, 75,7% das vítimas de homicídios são pretas e pardas.
Sendo assim, a necropolítica atua de diversas (e perversas) formas que também incluem a precariedade dos serviços de saúde em periferias, na ausência de políticas públicas e, também, no ceifamento de certos saberes históricos no campo educacional.
ELE ATUA COMO UM REGULADOR DA MORTE, ABREVIANDO A VIDA DAQUELES COM MENOS PRIVILÉGIOS.
Nesse contexto, surge a necessidade de falarmos sobre o LUTO e as pessoas enlutadas com essas mortes. O luto é um processo natural, importante e necessário quando o indivíduo rompe um laço afetivo importante onde será possível ressignificar as perdas a partir daquela perda.
ENTRETANTO, NESSE CENÁRIO, TEMOS LUTOS INVALIDADOS, NÃO RECONHECIDOS E SUFOCADOS.
O que pode trazer consequências negativas para as pessoas enlutadas que ficam. Não há política de acolhimento e o que fica é um luto doloroso, solitário e sequer reconhecido pela sociedade.
MAIS DO QUE NUNCA, O LUTO DEVE SE TORNAR UM MOVIMENTO, UMA CAUSA COLETIVA.
“Políticas Públicas e Políticas Afirmativas de qualidade não são favores. É dever de quem está ocupando cargos públicos (eleitos(as) pelo povo), pagos por nós, garantirem a implantação e implementação de Políticas Públicas de qualidade. Já passou da hora dos(as) operadores(as) do sistema de justiça, dos(as) executores(as) de políticas públicas e dos conselhos de direitos se atentarem que o Estado é representado por pessoas e a administração pública não é cabide de emprego. Políticas Públicas não é espaço para amadorismo e quem atua nos três poderes (executivo, legislativo e judiciário) tem o compromisso ético e político com os Direitos Humanos.”
Sibele Gabriela dos Santos