Existe um poeminha famoso nos Estados Unidos que se chama “The Dash”. Na minha tradução livre significa “O Poema do Traço”. A autora, Linda Ellis, fala simbolicamente sobre o traço que separa a data de nascimento da data de falecimento. Esse traço que representa toda a história de uma vida; o nosso legado de vida.
No poema ela faz a seguinte provocação: “E então quando sua eulogia for lida, contando tudo o que realizou em vida, você ficaria orgulhoso sobre como viveu o seu traço?” “Eulogia” é um termo que a gente não usa muito por aqui, mas é simples: é o discurso ou o texto feito em homenagem a alguém que morreu.
Em outras palavras: já parou para pensar como está vivendo a sua vida? Se é condizente com o legado que você quer deixar? Essa é uma reflexão profunda, eu sei. Ou talvez ela até possa te parecer banal. Mas ouso dizer que um dos caminhos para se chegar nessa resposta pode ser pensar sobre a sua morte e o que você deixa por aqui quando se for… O que de você continuará sendo transmitido.
Quando a gente fala em legado, pode parecer que apenas quem realizou grandes feitos o tem. O legado de Ayrton Senna para o esporte, de Ricardo Boechat para o jornalismo… Mas se engana quem acha que apenas pessoas famosas têm um impacto a ser cultivado por aqui.
EU APOSTO QUE VOCÊ APRENDE COM MUITA GENTE, ENSINA MUITA GENTE. AMA MUITA GENTE, É AMADO POR TANTAS OUTRAS.
Tem aquela receita que só sai boa pela sua mão ou mesmo toca violão como ninguém. E isso tudo é o que você é, misturado a tantas outras coisas.
Pegando carona no poema, o quê você gostaria que fosse dito no dia do seu funeral? Como resumiria a sua vida em uma frase de um epitáfio? E já que estamos falando disso, vamos falar também do funeral?
Como você gostaria que fosse o seu? Não se preocupe, falar de sexo não engravida, falar de morte também não mata! Brincadeiras e tabus à parte, o exercício é válido e pode representar um ato de amor para quem fica.
Quem já viveu uma perda e teve de se encarregar dos trâmites sabe do que estou falando. Conhecer as preferências e escolhas de quem se foi aquece o coração de quem ficou. Ter questões burocráticas organizadas isenta a família de camadas extras de dor. Minha dica é simples: faça uma pastinha (ou caixinha, ou arquivo…) do seu Legado de Vida. Te garanto que vale a pena!
Pra começar a tarefa, vá respondendo: onde fica o seu imposto de renda? Quem são seus melhores amigos? Para quem (ou de quem) você emprestou dinheiro? Quais músicas gostaria que fossem tocadas na sua cerimônia de despedida? Quais suas senhas? Quais suas flores preferidas? Quais seus objetos de maior valor sentimental? Quem fica com eles quando partir? Você tem seguro? Tem segredos? Quais os seus bens? Quais suas maiores realizações? Note que tudo isso passa pelo material e também pelo sentimental. É difícil precisar onde termina uma coisa e começa outra.
Responder essas perguntas é só o ponto de partida dessa construção. É pensar sobre tudo aquilo que acontece entre a data do seu nascimento e a data da sua morte – e, talvez, um pouquinho mais além também.
Agora que você chegou aqui… Saberia dizer alguns dos elementos fundamentais que você colocaria na sua pastinha do Legado de Vida?
Quer refletir mais sobre legado? Clique aqui para ler a coluna da psicóloga Silvana Aquino